Apesar dos vários pontos interessantes e provocativos levantados na ocasião, algo me chamou a atenção durante a fala da Professora Ana Paula Pacheco. Ao discorrer sobre alguns aspectos daquilo que se convencionou chamar de Literatura Marginal (expressão aplicada à prosa de autores como Paulo Lins e Ferréz), também usou o termo “literatura dos excluídos”. Este termo foi o que me incomodou, talvez porque eu já entenda o termo “marginal” como um rótulo que por força do uso acaba dissimulando suas contradições.
Mas fiquei pensando, sem nenhum cinismo, quem são os excluídos? Um dos exemplos dados foi a Irene, do poema “Irene no céu” que, se não me engano, foi considerada representativa da passividade dos “excluídos” na literatura modernista. No entanto, o poema antes me parece mostrar o ponto de vista carregado de afetividade de um privilegiado, que talvez expie um pouco de sua culpa ao imaginar que, pelo menos no céu, Irene teria uma recepção digna. Considero que o exemplo dado da prosa de Alcântara Machado seria mais adequado à representação textual da voz de uma parcela da população marginalizada pelas classes altas.
No entanto, quando pensamos em um contexto contemporâneo, o que definiria o “excluído”: a etnia, a situação econômica, a profissão, o sexo ou a opção sexual? Qualquer uma desses fatores (por exemplo, ser prostituta), ou apenas quando aparecem combinados (ser prostituta negra)? E um indivíduo pode ser “excluído” no plano social (negro) e “incluído” na esfera literária (escritor reconhecido)?
Confesso que acho problemática a visão do ”excluído” estar sendo representada principalmente por homens heterossexuais, brancos ou negros. Já que estamos com um pé nos estudos culturais, onde se escondem as outras minorias? Porque isso me faz pensar: cadê os índios? E as mulheres da periferia, que sofrem com a discriminação misógina de muitos rappers e outros artistas que supostamente são os porta-vozes dos desprivilegiados? Eles e elas existem. Provavelmente fora do mapa literário.