Aviso:

Agora, a oficina online poesia feita de quê? possui um blog próprio http://poesiafeitadeque.blogspot.com/. Estão todos convidados: participem!

terça-feira, agosto 28, 2007

3 inéditos de Claudio Daniel

Seguindo a linha editorial do mês de agosto, deveríamos expor alguns poemas de Angélica Freitas (publicado no impresso número 6). No entanto, respeitando a poeta, desistimos de reproduzir os poemas de seu livro e aguardaremos algum inédito que a agrade. Os curiosos podem, além de ler O Casulo, procurar seu Rilke Shake, editado pela coleção Ás de colete.
Por isso, esta semana, temos a honra de publicar trêpoemas de Claudio Daniel ainda inéditos, que fazem parte do novo livro, em processo de criação, Fera Bifronte. Agradecimentos especiais ao poeta que, desde as primeiras edições, mostrou-se solícito, colaborando em diversas ocasiões com o jornal, ora com ensaios, ora com seus próprios poemas.
?

Animal metafísico desliza aspereza
até abolição de vocábulos.
Uivos óticos;
patas enviesadas;
fileiras assimétricas
de vértebras,
códices de enigmas ósseos.
Em branco aniquilar
sua mandíbula,
aberta como fenda sexual
interrogante.
Flora esquelética no pelame,
rarefeita desde os tufos
da cabeça,
um mofar de paisagem
desnudante.
— Seqüência numérica tatua seu dorso
improvável, circunscrito
à descentrada geometria.
Olho-de-raio persegue desfocados
passos súbitos
num deslocamento
de vermelhos.




PONTO

áspera paisagem de linhas
retorcidas
como ferros
de uma paisagem
amorfa.
desavença de cores
no espelho retrovisor;
cicatrizes alinhadas
nos pulsos, em desenhos
de fetos inanes.
esquinas meretrizam
esqueléticos ângulos
na noite desfocada.
unhas negras, peitos brancos,
hora sem cor,
autofágica garganta absorve
o asco de tudo.



CARANGUEJO

aquática paisagem, faixas de areia e uma seqüência de morros, horizonte simulando música. quiosques vendem camarões e mariscos. meninos magros e morenos jogam bola com uma cabeça decepada. a velha senhora inglesa lê o herald tribune com lentes bifocais. o sorveteiro anuncia profecias apocalípticas. há um furacão nas ilhas fidji. esferas planas surgem no céu de okinawa, como pegadas de urso. um sargento aposentado em kansas conversa com os peixes. não há nada que seja realmente absurdo. tudo está escrito em algum lugar, nas tábuas de esmeralda, no popol vuh, no livro tibetano dos mortos. há quem diga que a espuma no oceano é uma linguagem. há uma lógica irrefutável no movimento dos astros. o destino foi escrito nas palmas de nossas mãos. tudo isso ignoro, não me diz respeito; palavras são detritos como algas, conchas ou brincos oferecidos à deusa das águas. eu só deslizo as pinças entre possibilidades. invisto minha carapaça vermelho-marrom, que você tanto ama, até o centro da dúvida, para encontrar minha fábula. eu sou a imagem deste enigma, a contradição de um crustáceo

Claudio Daniel, poeta, tradutor e ensaísta, publicou, entre outros títulos, Romanceiro de Dona Virgo (Lamparina, 2004) e Figuras Metálicas (Perspectiva, 2005). Blog: Cantar a pele de lontra.

segunda-feira, agosto 20, 2007

Ronald Polito

Continuamos com a publicação eletrônica dos poetas presentes na edição 6 do jornal. Hoje publicaremos alguns poemas visuais de Ronald Polito, da série intitulada Uns Tipos (2007). Esses poemas minimalistas propõem um novo olhar perante caracteres operacionais, usados diariamente por milhares de pessoas. Os olhos viciados, acostumados a ver os objetos em sua dimensão informativa (onde & equivale a partícula aditiva "e"; % equivale a porcentagem; etc) podem se assombrar com os novos significados que esses objetos adquirem sobre a nomeação do poeta. Surpreso?









Ronald Polito é mineiro e nesceu em 1961. Além de ser poeta, é também editor e tradutor. Entre seus livros estão Solo (Sette Letras, 1996), Intervalos (7Letras, 1998), De passagem (Nanquim Editorial, 2001) e Terminal (7Letras, 2006).

terça-feira, agosto 14, 2007

Marcelo Montenegro

Agora, depois do bem sucedido lançamento do Casulo nº 6 é a vez do blog receber uma carga de ânimo e se revitalizar. A idéia é usar este espaço para expor poemas, mini-contos, traduções, pequenos ensaios, apontamentos incisivos e outros textos de qualidade ainda não publicados e capazes que gerar um debate saudável sobre a literatura atual. Todas as terças teremos uma publicação nova e, claro, contamos com a participação de todos os leitores através dos comentários. Esperamos, assim, que a discussão literária seja ampla e democrática.

Para esta primeira publicação escolhemos o poeta Marcelo Montenegro que está na nova edição impressa do jornal e comparece aqui com outros poemas.

poema estatístico


Tem uma esquina prenha de um latido.
Trechos de pássaros que permanecem
nos muros que ficam. E vice-versa.
Um email anotado às pressas no canhoto do tintureiro.
A cirrose portátil. A síndrome do pânico.
O enroladinho de presunto e queijo.

Tem a Mulher mais Linda da Cidade.
Groupies de cabelo rosa. Poodles
da solidariedade. Alguém chorando lágrimas
de tubaína. Penélopes Charmosas.
Dick Vigaristas. Um cara que já sai desviando
do cinema del arte, evitando ser atingido
por alguma conversa perdida.

Tem a mulher da vídeo-locadora
que não conhece o filme que estou procurando.
Um amigo que diz que escreve só para colocar epígrafes.
Taxistas infláveis. Manicures em chamas.
Um casal que desce a rua na banguela
prolongando a gasolina daquilo tudo
que um dia fora. Eu ando apaixonado
pela mulher da vídeo-locadora.
Lendo revistas na sala de espera
do consultório dentário. Tem uma
que venta. E um que desiste.
De arranhar os vidros do aquário.

grutas


À paisagem gravitam
Nas grutas do invisível
Pequenas ou grandes coisas
Que não se explicam

E aparecem
E passam
Evaporam
E chovem no meio do mar

A gente nunca sabe a hora
E é sempre a hora exata

De se olhar

velhas variações sobre a produção contemporânea

Agora mesmo algum maluco
deve estar postando qualquer treco
genial na internet,
alguém deve estar pensando
em como melhorar aquele
texto enquanto lota o especial
de vinagrete, perseguindo
obstinadamente um acorde
voltando da padaria.

Agora mesmo alguém
pode estar pensando
que guardamos só pra gente
o lado ruim das coisas lindas –
assim, trancafiado a sete chaves
de carinho – alguém
pode estar sentindo tudo ao mesmo tempo
sozinho, assim brutalmente
sentimental, feito coubesse
toda a dignidade humana
num abraço tímido.

Agora mesmo alguém deve estar limpando
cuidadosamente o CD com a camisa,
pulando a ponta do pão pullman,
sentindo o baque da privada gelada,
perguntando quanto está o metro
daquela corda de nylon, trepando
no carro, empurrando o filho
no balanço com uma mão
e na outra equilibrando
a lata e o cigarro, agora mesmo
alguém deve estar voltando,
alguém deve estar indo,
alguém deve estar gritando feito um louco
para um outro alguém
que não deve estar ouvindo.

Agora mesmo alguém
pode estar encontrando sem querer
o que há muito já nem era procurado,
alguém no quinto sono
deve estar virando para o outro lado,
alguém, agora mesmo, no café da manhã
deve estar pensando em outras coisas
enquanto a vista displicentemente lê
os ingredientes do Toddy.

robert creeley band

Monga, a mulher-gorila:
na dúvida, rindo da Vida;
aqui, grudada no corpo,
como uma calça jeans
encharcada de chuva –
A preparação do salto
na cabeça do cervo morto.

A musa fatiada na véspera
do mágico – E o jeito encantador
com que a executiva
mexe o canudo
no copo de suco.

Na quermesse dos sentidos,
onde a noite troca de pele
com o dia – O céu esfolado,
anjos em velocípedes –
A esfirra que sobra
na lanchonete que fecha –
Onde o espanto
lustra seus rifles.

making of

Acabar com toda gentileza
E concluir minha própria temporada de caça
Parar de me arriscar
Dar o fora da minha natureza
Esganar essa ternura metida a besta
Sabotar a causa
Mutilar a festa
Desistir do que penso
Psicografar meu riso
Sancionar meu egoísmo
Panfletar este silêncio
Cultivar uma plantação de morcegos
E no meu alfabeto maluco de medos
Apagar de uma vez por todas
Todos os aposentos da delicadeza
Estuprar essa leveza
Destituir-me desta maldita mania
De sempre esquecer
Uma luz acesa

Marcelo Montenegro (São Caetano do Sul, 1971) é autor de “Orfanato Portátil” (Atrito Art Editorial, 2003). Têm poemas e outros textos publicados nos principais sites e revistas literárias do país. Ao lado dos músicos Marcelo Schevano (piano), Flavio Vajman (gaita), Marcello Amalfi e Fábio Brum (guitarras), criou o espetáculo “Tranqueiras Líricas”, apresentado, entre outros, no Sesc Pinheiros, Galeria Olido, Biblioteca Alceu Amoroso Lima, Galeria Virgílio e Casa das Rosas. Participou do projeto “Poesia na Idade Mídia”, no Itaú Cultural (Ago/2005), que reuniu 8 poetas brasileiros (Celso Borges, Frederico Barbosa, Rodrigo Garcia Lopes, Artur Gomes, Chacal, Ademir Assunção e Ricardo Aleixo) que viraram referência nesta intersecção entre literatura e música no palco. No mesmo lugar, em 2006, integrou o “A(u)tores em Cena”, com escritores contemporâneos sendo dirigidos por diretores de teatro. É roteirista e editor de vídeo e membro do grupo de teatro Cemitério de Automóveis onde opera luz e sonoplastia.

sábado, agosto 11, 2007

O Casulo, número 6

Ontem, a Biblioteca Alceu Amoroso Lima abriu suas portas para o lançamento do Casulo nº6. Durante algumas horas da noite, o anfiteatro recebeu um público disposto a ouvir poetas de diferentes estilos e inclinações e acolher a apresentação pública do coletivo de poesia Vacamarela, formado por jovens poetas (alguns dos quais, responsáveis pelo Casulo) que pretendem contribuir um pouco mais à cena literária contemporânea.

Após uma rápida apresentação de Frederico Barbosa, responsável pela organização de eventos da Biblioteca, o lançamento teve a participação especial do poeta Marcelo Montenegro lendo alguns de seus textos publicados nesta edição do jornal (em breve mais poemas do Marcelo, aqui no blog). O evento prosseguiu com a leitura intitulada sarau da Vacamarela: os atores Celso Borges e Carol Martins interpretando poemas de integrantes do coletivo Vacamarela com a intervenção musical, mais que bem-vinda, do músico Rafael Agra.

O violonista Vinix Leite contribuiu com seu pocket-show acompanhado por palmas do público. A música continuou em alto nível com Kadu Ayala que manteve os espectadores no mesmo entusiasmo. E, para encerrar com chave de ouro, um sarau aberto que contou com a presença de poetas já conhecidos do público e também de (ainda?) desconhecidos que resolveram esquecer da timidez e subir ao palco. Esperamos todos, e mais novos, nos próximos eventos!


O jornal foi distribuído de maneira satisfatória, sem esquecer que esta edição também será distribuída em escolas públicas da cidade de São Paulo e pretende estimular a leitura e produção de poesia nos jovens estudantes, através de oficinas literárias e do concurso "Saia do Casulo" que logo serão devidamente comentados.

terça-feira, agosto 07, 2007

Lançamento do Casulo nº 6 + sarau vacamarela

Contagem regressiva para o Lançamento do jornal O Casulo nº 6 + sarau vacamarela!!!

O evento, que acontece esta sexta, dia 10 de agosto, a partir das 19h30 na Biblioteca Alceu Amoroso Lima — R. Henrique Schaumann, 777 (esquina com Cardeal Arcoverde) —, será a primeira apresentação pública do grupo vacamarela — formado por jovens poetas — e contará com a participação de atores e músicos que, de alguma maneira, se aproximem da produção literária contemporânea.

Na ocasião, haverá distribuição gratuita do número 6 do jornal O Casulo que, nesta edição, traz uma entrevista com Zeca Baleiro, poemas de Angélica Freitas, Marcelo Montenegro e Ronald Polito, e imagens de Luli Penna e Francisco dos Santos.

E, sendo O Casulo um jornal que abre espaço para novos poetas, a partir das 21h15 o sarau será aberto ao público. Para se inscrever, procure um representante do grupo vacamarela na entrada do auditório da Biblioteca. As inscrições só acontecerão no dia do lançamento a partir das 19h00 e a ordem de leitura obedecerá a ordem de inscrição!

Segue abaixo a programação:

  • 19h30 - abertura com o poeta Marcelo Montenegro.
  • 20h00 - sarau vacamarela (Celso Borges e Carol Martins lêem poemas do grupo vacamarela com intervenções do músico Rafael Agra).
  • 20h30 - dois pocket-shows com os músicos Kadu Ayala, e depois, Vinix Leite.
  • 21h15 - sarau aberto ao público. Para participar, inscreva-se na entrada do auditório.

Divulguem a vontade !!!

domingo, agosto 05, 2007

ESTADÃO DE HOJE | caderno 2

Os preparativos para o lançamento d'O Casulo nº 6 já começaram. Confiram a matéria que saiu no Caderno 2 do jornal o Estado de São Paulo, na versão impressa e também na digital.

Em breve mais novidades sobre a nova edição do jornal.

Poemas contemporâneos impressos em jornal

O Casulo, idealizado por alunos da graduação e mestrado da USP, chega à 6.ª edição e lança concurso

Livia Deodato

Preciosos poemas contemporâneos estão guardados n'O Casulo, jornal de literatura elaborado por alunos da graduação e do mestrado dos cursos de letras, direito e jornalismo da Universidade de São Paulo (USP). Na próxima sexta-feira, às 20 horas, na Biblioteca Alceu Amoroso Lima (R. Henrique Schaumann, 777, tel. 3082-5023), está marcado para ocorrer o lançamento do 6º número do jornal, que traz poemas de Angélica de Freitas, Marcelo Montenegro e Ronald Polito, além de uma entrevista com o músico maranhense Zeca Baleiro. As ilustrações são de Luli Penna e de Francisco dos Santos.

Graças ao apoio do projeto de Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), da Secretaria da Cultura da Prefeitura de São Paulo, essa mais nova edição de O Casulo alcançou uma tiragem de 30 mil exemplares contra 2 mil do último número, publicado em março/abril. Eles serão distribuídos gratuitamente em 88 bibliotecas, 150 escolas de ensino médio, entre municipais e estaduais, e 23 Centros Educacionais Unificados (CEUs). "Com o apoio da Prefeitura, ainda iremos oferecer 20 oficinas de criação literária em setembro, com 2 horas de duração cada uma", adianta um dos editores do jornal, Eduardo Lacerda. As oficinas buscam servir de base para formação de multiplicadores e o foco estará voltado para autores contemporâneos, "para a literatura de quem está produzindo hoje", nas palavras de Lacerda, "que aproximam mais os jovens".

"Às vezes saio do cinema/E me ponho a andar/Cartografia pessoas/Apenas olhar/Ter a leve impressão/De que a cidade está grávida/De um outro lugar", diz Matinê, um dos sete poemas do paulista de São Caetano do Sul Marcelo Montenegro, que colore a mais recente edição de O Casulo. Ou ainda "Esse tempo não é teu./Nem nenhum./Capitula teu pacto unilateral./A tua combustão espontânea acelera./Esta é a fronteira entre dois desertos", do mineiro Ronald Polito, em Emblema.

Com o fomento de R$ 15 mil recebido através do projeto VAI será possível publicar também a próxima edição d'O Casulo, prevista para o fim do ano. E ainda promover o 1º Concurso Saia do Casulo, destinado a alunos do ensino médio da capital. "Selecionaremos de 3 a 20 poemas para publicarmos n'O Casulo, além de premiarmos os vencedores com livros doados pelas editoras Azougue, Escrituras e Lucerna, que já nos concederam 150 obras até o momento", conta o editor e também poeta. Para mais informações, escreva para ocasulo@gmail.com ou ligue no (11) 6104-8873.

A idéia da publicação é abrir caminhos para autores talentosos, a exemplo da advogada e poeta Ana Rüsche, que publica seus textos desde a 1ª edição d'O Casulo e recebeu, no ano passado, uma bolsa de criação literária por meio do Programa de Apoio à Cultura (PAC), da Secretaria de Estado da Cultura. Ela deve publicar seu romance Acordados até o fim deste ano.

Em novembro, a associação de escritores Vaca Amarela, alguns dos quais responsáveis pela edição d'O Casulo, vai lançar uma antologia de poemas numa edição trilíngüe (espanhol, inglês e português).