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Agora, a oficina online poesia feita de quê? possui um blog próprio http://poesiafeitadeque.blogspot.com/. Estão todos convidados: participem!

sábado, setembro 22, 2007

OVELHA NEGRA (Black Sheep): Uma antologia de poesia da escócia do século XX

No dia 27 de outubro, às 20:30h, na Sala Cultura Inglesa do Centro Brasileiro Britânico (Rua Ferreira de Araújo 741 3º andar; São Paulo SP; fone 3095 4466) haverá o lançamento do livro "Ovelha Negra", a primeira antologia de poesia escocesa disponível no Brasil, edição bilíngüe com a seleção se 13 poetas 13 poetas escoceses doséculo XX: Hugh MacDiarmid, Norman MacCaig, Edwin Morgan, George Mackay Brown, Ian Hamilton Finlay, Alastair Reid, Stewart Conn, Douglas Dunn, LizLochhead, Tom Leonard, Jackie Kay, Dilys Rose e Richard Price. A antologia, da Lumme Editor e apoiada pelo Scottish Arts Council e Cultura Inglesa, tem tradução integral da poeta Virna Teixeira, autora dos livros "Visita" (7Letras, 2000) e "Distância" (7Letras, 2005). Para anteciparmos um pouco o lançamento desta quinta-feira, que terá participação de Christopher Mack e apoio da St Andrew's Society, publicamos agora três poemas de Douglas Dunn, presentes na antologia, e suas respectivas traduções:

Modern Love
It is summer, and we are in a house
That is not ours, sitting at the table
Enjoying minutes of a rented silence,
The upstairs people gone. The pigeons lull
To sleep the under-tens and invalids,
The tree shakes out its shadows on the grass,
The roses rove through the wilds of my neglect.
Our lives flap, and we have no hope of better
Happiness than this, not much to show for love
But how we are, or how this evening is,
Unpeopled, silent, and where we are alive
In a domestic love, seemingly alone,
All other lives worn down to trees and sunlight,
Looking forward to a visit from the cat.



Amor Moderno
É verão, estamos em uma casa
Que não é nossa, sentados à mesa
Desfrutando minutos de silêncio alugado,
Os hóspedes de cima partiram. Os pombos embalam
o sono das crianças e dos inválidos,
A árvore sacode suas sombras na grama,
As rosas vagueiam no agreste da minha negligência.
Nossas vidas oscilam, e não temos esperança de melhor
Felicidade que esta, não tanto para demonstrar amor
Mas como estamos, ou como está essa noite,
Despovoada, silenciosa, e onde estamos vivos
Em um amor doméstico, parecendo sós,
As outras vidas desgastadas de árvores e luz do sol;
Esperando ansiosas por uma visita do gato.



Men of Terry Street
They come in at night, leave in the early morning.
I hear their footsteps, the ticking of bicycle chains,
Sudden blasts of motorcycles, whimpering of vans.
Somehow I am either in bed, or the curtains are drawn.
This masculine invisibility makes gods of them,
A pantheon of boots and overalls.
But when you see them, home early from work
Or at their Sunday leisure, they are too tired
And bored to look long at comfortably.
It hurts to see their faces, too sad and too jovial.
They quicken their step at the smell of cooking,
They hold up their children and sing to them.



Homens da Terry Street
Eles chegam no período noturno, partem de manhã cedo.
Escuto seus passos, o clangor das correntes de bicicleta,
Bombas súbitas de motocicletas, choramingar de vans.
De certo modo estou na cama, ou com as cortinas puxadas.
Esta invisibilidade masculinas os torna deuses,
Um panteão de botas e macacões.
Mas quando você os vê, em casa logo após o trabalho
Ou no seu descanso de domingo, estão cansados demais
E entediantes de se observar por muito tempo.
Dói enxergar suas faces, tão tristes e tão joviais.
Eles apressam o passo com o cheiro da comida,
Levantam suas crianças e cantam para elas.



Love poem
I live in you, you live in me;
We are two gardens haunted by each other.
Sometimes I cannot find you there,
There is only the swing creaking,
that you have just left,
Or your favourite book beside the sundial.



Poema de amor
Eu habito em você e você em mim;
Somos dois jardins assombrados pelo outro.
Às vezes não consigo encontrar você ali,
Há somente o balanço rangendo,
Logo após sua partida,
Ou seu livro favorito atrás do relógio de sol.


Douglas Dunn nasceu em 1942 em Inchinnan, Renfrewshire. Trabalhou como bibliotecário, estudou inglês na Universidade de Hull, e desde 1991 é professor do departamento de literatura escocesa na Universidade de St Andrews. Recebeu diversos prêmios literários. Contribui regularmente como ensaista em diversas revistas e jornais, tais como Glasgow Herald, the New Yorker e o the Times Literary Supplement. Além de poeta e prosador, tem editado várias antologias e estudos de crítica literária.

Virna Teixeira, tem dois livros de poesia publicados ("Visita" e "Distância", 7 Letras), foi bolsista Chevening do British Council, morou em Edimburgo por 2 anos, e recentemente organizou e traduziu o livro “Na Estação Central” do poeta escocês Edwin Morgan (editora UnB).

Lumme Editor em diálogo com as tradições erudita e popular publica romances, contos, ensaios, poesia, livros de arte, mitologia e folclore, além de manter um programa para publicação de novos autores e autores latino-americanos.

sexta-feira, setembro 14, 2007

DOIS MUGIDOS


Tradução de Fábio Aristimunho Vargas

Apesar do atraso, continuamos nossas publicações. Escolhemos, para esta semana, um poeta "prata da casa", conselheiro editorial d'O Casulo, organizador da FLAP e co-fundador do Vacamarela. O poeta Fábio Aristimunho Vargas, autor Medianeiro (Selo Quinze & Trinta, 2005). No entanto, aqui será exposta uma outra faceta de Fábio: o tradutor português, espanhol, catalão e galego que publuca, exporadicamente no blog Medianeiro. Mais inusitado que suas ótimas traduções para o português é o processo inverso: tradução para o espanhol de um famoso poema de Fernando Pessoa.


MAR PORTUGUÉS
Tradução de Fábio Aristimunho

Oh mar salado, ¡cuánto de tu sal
son lágrimas de Portugal!
Te cruzamos: cuántas madres lloraron,
cuántos hijos en vano oraron…
¡Cuántas novias se quedaron solteras,
oh mar, para que nuestro fueras!

¿Y valió? Vale todo que se empeña
si el alma no es pequeña.
Si uno traspasar quiere el Bojador
hay que traspasar su dolor.
Dios le dio el abismo y el riesgo al mar
– y al cielo le hizo reflejar.



*



MAR PORTUGUÊS
Fernando Pessoa


Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso , ó mar!

Valeu a pena ? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor .
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.


Fábio Aristimunho Vargas é advogado, poeta e tradutor. Formado em Direito pela USP. Autor do livro Medianeira (Quinze & Trinta, 2005). Foi presidente da Academia de Letras da FDUSP (1999/2000). Mantém o blogue Medianeiro: medianeiro.blogspot.com. Mora em São Paulo.


Fernando Pessoa é considerado um dos maiores poetas de língua portuguesa tendo seu valor comparado ao de Camões. Por ter vivido a maior parte de sua juventude na África do Sul, a língua inglesa também possui destaque em sua vida, com Pessoa traduzindo, escrevendo, trabalhando e estudando no idioma. Teve uma vida discreta, em que atuou no jornalismo, na publicidade, no comércio e, principalmente, na literatura, onde desdobrou-se em várias outras personalidades conhecidas como heterônimos. A figura enigmática em que se tornou movimenta grande parte dos estudos sobre sua vida e obra, além do fato de ser o maior autor da heteronímia. Nasceu em Lisboa, capital de Portugal, em 13 de junho de 1888 e morreu 30 de novembro de 1935 na mesma cidade.

segunda-feira, setembro 10, 2007

Coleção Caixa Preta

Primeiras palavras da caixa preta...



terça-feira, setembro 04, 2007

Depois do “poemão” por Débora Racy Soares

Prosseguindo com as publicações semanais: a contribuição, dessa vez, é de Débora Racy Soares, que elabora uma tese de doutorado sobre Cacaso. Sugerimos uma breve comparação sobre a geração do referido poeta e a atual geração de poetas. Acredito que o texto seja muito rico e pode alimentar boas reflexões sobre a poesia. Comentários em aberto (e agradecimentos a Débora).

Depois do “poemão”: a poesia hoje

Cacaso costumava dizer que todos os poetas de sua geração estavam escrevendo um “poemão”, isto é, um único poema coletivo, a mil mãos. Os sentidos desse “poemão”, se desdobrados, alcançam dimensões que transcendem a esfera estética. Nos anos de setenta, a idéia de uma escrita coletiva não passava ao largo da poética com envergadura política: escrever era resistir à paralisação institucional. Pôr em ação um “poemão” significava, a priori, contestar várias esferas de poder. Um dos alvos era o “restrito e restritivo” sistema editorial que, diante do “boom” de poetas, não tinha “vagas suficientes” para absorver a produção excedente. Essa espécie de transbordamento poético fez com que os poetas “imaginassem saídas” e “ficassem mais inventivos”. A edição independente dos livros de poesia, à margem das editoras, surgiu como resposta a um quadro de época. Atualmente a situação editorial não é muito diferente, embora, com as novas tecnologias, tenha ficado mais fácil divulgar poesia. Há, porém, quem acredite que a poesia será sempre marginal. Às perfomances poéticas de setenta, aos saraus literários e à divulgação dos poemas em jornais e revistas, acrescentam-se hoje os https pessoais e os blogs. Alguns dos “marginalizados” de setenta tiveram seus livros publicados pelas editoras, em meados de oitenta, o que contribuiu para o conhecimento de suas obras e para a criação de uma espécie de cânone marginal. Embora isso pareça um contra-senso, é preciso reconhecer que os poetas contemporâneos estabelecem um diálogo frutífero com alguns poetas de setenta que sobreviveram às intempéries iniciais e seguem escrevendo e divulgando seus poemas, agora pelas vias tradicionais.
Débora Racy Soares é doutoranda em Letras pela UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas).