Aviso:

Agora, a oficina online poesia feita de quê? possui um blog próprio http://poesiafeitadeque.blogspot.com/. Estão todos convidados: participem!

sábado, outubro 27, 2007

Oficinas literárias O Casulo

Entre os meses de outubro e novembro deverão ocorrer 20 oficinas literárias O Casulo. A intenção inicial é apreender e auxiliar a produção poética dos alunos de Ensino Médio da rede pública da município de São Paulo. Poetas de conhecido repercussão apresentam aos adolescentes um pouco de teoria e estimulam a escrita sugerindo a utilização de alguns recursos recorrentes na linguagem poética.
Agora temos uma notícia ainda melhor: estas oficinas literárias vão expandir seu alcance. Numa parceria com a ACEPUSP, faremos cinco oficinas abertas ao público interessado em poesia. Pessoas de todas as idades poderão comparecer, para desenvolver a produção seus próprios poemas ou simplesmente para melhorar sua maneira de ler poesia. Infelizmente, uma destas oficinas (Formas poéticas, por Fabiano Calixto) ocorreu no sábado passado e outra
acaba de ocorrer hoje (Sonoridade na poesia, por Frederico barbosa). No entanto, ainda ocorrerão 3 oficinas que, esperamos, sejam muito frutíferas.

As oficinas ocorrem todos os sábados às 10 horas da manhã no ACEPUSP:
Rua da Consolação, 1901 (próxima ao Metrô Consolação) - São Paulo/SP.
fone: (11) 3258-1436


As próximas oficinas serão:

03/11/07 - Teoria e prática do poema, por Flávio Rodrigo Vieira (estudante de Letras Português/Alemão pela USP)

10/11/07 - Imagem criadora, imagem criação, por Juliana Bratfisch (estudante de Letras Português/Francês pela USP)

17/11/07 - Jornalismo literário, por Ana Paula Ferraz (poeta integrante do Coletivo Vacamarela e jornalista formada pela PUC-SP)

* para maiores informações e esclarecimentos mande um e-mail para nuernberger@terra.com.br

sábado, outubro 20, 2007

Dois trechos de Elisa

Esta semana apresentamos a poeta Elisa Andrade Buzzo. Ela é membro do conselho editorial d'O Casulo, revisora e uma das responsáveis pela assessoria de imprensa do nosso jornal. Incansável, co-edita também a revista Mininas e mantém uma coluna no site Digestivo Cultural. Além de tudo, ainda possui um blog pessoal chamado Calíope. Os poemas em prosa publicados aqui estão publicados nas antologias Cuatro poetas recientes del Brasil (Buenos Aires: Black&Vermelho, 2006) e Oitavas (São Paulo: Demônio Negro, 2006), respectivamente. Como conhecedor de seu livro de estréia afirmo com bastante prazer que sua poesia tem se refinado cada vez mais nos últimos tempos. Aproveite estes dois poemas recentes que, quem sabe, constarão no próximo livro da poeta.


Trecho de e-mail a Elias

embora eu não sorrisse, se clarificava uma felicidade íntima em percorrer a rua, nas costas a mochila, na mão esquerda, apoiados contra o peito, alguns livros, na mão direita uma sacola de plástico com uma lasanha à bolonhesa congelada, já começando seu processo de derretimento; se a água escorresse, poderia refrescar as milhares de cabeças que formigavam no calor de 30º, ou mais, da cidade; o mundo num lilás macio passava através das lentes dos óculos de sol, onde me refugio entranhada na segurança do escuro fresco; tamanha era a satisfação em dobrar os quarteirões, as chinelas havaianas azuis claras massageando a calçada irregular, geografia insólita do grande rosto da Terra retorcido de feições acumuladas, imprimindo nos meus pés sua deformidade; luzidia, não ria.

(Cuatro poetas recientes del Brasil, Buenos Aires, Black&Vermelho, 2006)





Ondulações

No entortado da letra forjo a cidade em palavras mata-borrões. Mancha gráfica é a cidade que imprimo fora de cores na noite. No limite negro-azul entre ela e a madrugada, os autos não respeitam os sinais no horizonte. Cada buraco, cada reentrância oscilante – fratura no asfalto – na qual indiretamente me deito e logo depois sou alçada. Um observador externo certamente veria as gorduras das bochechas e dos peitos tremendo. Sobressai minha caligrafia tremida sobre a noite amortecida; ressaltam-se sinais, rugas, sulcos gelatinosos. Na velocidade da luz noturna, o ônibus bóia no espaço, sou parte dessa estrutura que levita. Ele sobe tão rápido que minha escrita se descompassa, as fachadas de metal das lojas tornam-se um risco cinza de grafite definitivo. Escrevo as cenas que desabrocham na noite, como as camélias brancas desprendem um aroma doce e enérgico. A tentativa de reter essa fragrância é inexpressiva. Na noite quente de primavera, grilos esperneiam – e a cidade omite os insetos nas verduras. A escuridão fresca absorve a tinta da caneta: papel-chupão. Existe um momento na madrugada paulistana em que o atrito se desfaz das ruas. E as letras escorrem tranqüilas e macias.

(Oitavas, São Paulo, Demônio Negro, 2006)

Elisa Andrade Buzzo é jornalista, co-edita a revista de literatura e artes visuais Mininas e tem coluna no site Digestivo Cultural. Seu primeiro livro de poesia é Se lá no sol (7Letras, 2005). Ainda em livro, participa das coletâneas Oitavas (Demônio Negro, 2006), Cuatro poetas recientes del Brasil (Black&Vermelho, 2006) e Caos portátil, poesía contemporánea del Brasil (El Billar de Lucrecia, 2007).

quinta-feira, outubro 11, 2007

Sarau temático na Alceu Amoroso Lima

O coletivo Vacamarela realizará em outubro e novembro saraus temáticos na Biblioteca Alceu Amoroso Lima. Os temas serão escolhidos por alguma data representativa comemorada em cada um dos meses. Dia 19 de outubro às 19h30 será o primeiro sarau da série e celebrará o Dia das Crianças. A entrada é gratuita e as participações são muito bem-vindas.




quinta-feira, outubro 04, 2007

Andréa Catrópa, prosadora

Esta semana, temos o prazer de publicar a poeta e mestre em Teoria Literária pela USP, Andréa Catrópa. Ela é co-editora da versão impressa do jornal O Casulo, participa da organização do blog, das oficinas literárias nas escolas públicas, da seleção dos poemas e tantas outras atividades. Sua incansável dedicação a literatura contemporênea, desde o tempo da revista Metamorfose (editada na época de sua graduação em Letras/USP, início de sua parceira com Eduardo Lacerda), é digna de saudação. Esta publicação é, portanto, cheia de referência pessoal mas nunca ignorando a qualidade literária. Apesar de possuir uma produção de poemas bem conhecida, publicaremos aqui um pequeno conto de sua autoria. Salto sem rede de proteção? Arrisquem-se também expondo comentários.



mãe

Minha mãe entrou pela porta, apressada como desde que a conheci, contando detalhes de sua ida ao supermercado. Antes de entrar, sempre tocava a campainha repetidas vezes. Era inútil tentar abrir a porta. Quando procurávamos virar a chave, ela já havia achado a sua e, do lado oposto, bloqueava a fechadura. Ao primeiro passo na sala, já nos chamava, afobada, às vezes rindo, às vezes com ódio de alguma cotidiana desventura comercial. Aumentaram o preço do alho, uma velha malcriada roubou o último pedaço de filé que já estava em meu carrinho. Não importava de que tarefa nos ocupássemos, nós que ficamos. Sua entrada era um evento que exigia atenção e um eventual pedido de silêncio era tratado com total descaso. Que tudo parasse, pois ela tinha algo para contar, uma informação a partilhar e tudo podia ser agora. Sua pressa era indefinida pelo relógio. A correria do café da manhã. Depois do almoço. E do jantar. A hora de levar as crianças na escola. A hora de buscar.Era um contínuo de desventuras a que se devotou, pois tudo tinha para ela um pesar quase religioso.
Entrou e era uma entrada sonora. Com barulho de moedas, roçar de sacos plásticos, e um ou outro palavrão quando algo caía. Nesse caso, dependendo do humor, quem mais estivesse perto da porta seria o culpado por não tê-la ajudado. Na sala, tudo ia caindo ao chão, desenhando um rastro até a cozinha. De lá, resoluções ditas em voz alta para si e para os outros. O almoço precisava sair rápido, estava tudo atrasado.E isso se repetia. Todos os dias saía, voltava, mesma hora.
Cotidiano marcado. Sugestões de mudança eram afastadas com protestos. Como poderia se adiantar, se precisava esperar que acordássemos para nos dar o café? Ela estava de pé desde as sete e meia, desde as SETE E MEIA. Inútil explicar que podíamos tomar o café sozinhos, ou ajudar no almoço. Ela estava com pressa ela estava cansada ela estava sozinha. Reclamava enquanto mexia os ovos, fritava a cebola. Depois recontava o mesmo evento que já tinha contado. Ela desconhecia o silêncio ou não queria voltar a encontrá-lo.
Anos de repetição talvez tenham criado ecos. Minha mãe entrou na sala como sempre, ainda que estivesse longe daqui. Olhei para a porta fechada. É estranho não querer quem amamos.



Andréa Catrópa é mestre em Teoria Literária e uma das editoras do jornal de literatura contemporânea O Casulo. Integra a coletânea 8 femmes e seu primeiro livro de poemas Linha d’água está no prelo.