Aviso:

Agora, a oficina online poesia feita de quê? possui um blog próprio http://poesiafeitadeque.blogspot.com/. Estão todos convidados: participem!

sexta-feira, novembro 30, 2007

Falta apenas um dia

E hoje uma resenha de Ivan Hegenberg sobre o livro de Ari Almeida, O Manual Prático de Delinqüência Juvenil. Confiram:


Para o maior terrorista poético do Brasil



Ari Almeida, você é mais importante do que imagina. Se você soubesse o quanto as conversas dos artistas plásticos e dos poetas chegam sempre no mesmo impasse... Uma palavra freqüente é “crise”, pois é isso que está tomando conta de todas as expressões artísticas. A coisa é séria, os artistas estão todos perdidos, parecem mais cobras mordendo o próprio rabo. Existe, entre os poetas e artistas de hoje, uma tentativa de fundir arte e vida, de dissolver a arte no cotidiano, de fazer com que o dia-a-dia se torne mais poético. A intenção é empolgante: se o próprio correr dos dias fosse tão rico e intenso quanto um poema épico ou quanto a pintura mais bonita, já não precisaríamos nem de museus nem de coletâneas de autores. Mas a verdade é que essa tentativa fracassou, o artista continua fazendo o papel de uma instituição, de uma autoridade que decide o que é arte e o que não é. Ou seja, se precisamos do “Artista” como uma espécie de juiz, a arte continua separada da vida.
Eis que de repente, Ari, você entra na discussão. Você mesmo, jamais um artista, antes um guerrilheiro da contracultura. Nem sequer assina com o nome verdadeiro (caramba, quem é Ari Almeida?). Não pede licença para invadir a casa dos outros e espalhar suas idéias onde quer que esteja. Entende como ninguém o quanto a verdadeira história é a história do desejo. Percebe que num mundo apático como o nosso, a consciência só é despertada diante de verdadeiros crimes. E portanto oferece o terrorismo poético como alternativa, em lugar da crueldade do terrorismo real. Palavras e imagens não bastam para mudar o mundo, daí nasce teu amor pela ação. Se alguém quiser mesmo fundir vida e arte no mesmo gesto, é preciso deixar de lado toda a história da arte. Você não precisa do status de artista para ser arteiro: de outra maneira, só teria histórias frustradas para nos contar.
E o que não te falta é repertório, como você descreve no Manual Prático de Delinqüência Juvenil. Com os Delinqüentes, você ousou como um verdadeiro Lampião, com a diferença que trocou a carabina pelo estilingue. Se nós, poetas angustiados, declamamos poesia nos saraus, vocês os atiraram para dentro das casas, quebrando as vidraças e a apatia. Os muros também não foram poupados, fazendo as vezes de tela para pinturas e frases que são como disparos. Nem mesmo a sagrada televisão, a maior rival da cultura, ficou ilesa: Delinqüentes não precisam respeitar nem mesmo Rede Globo, invadem a programação e dão sua própria versão (na verdade, a subversão) do Jornal Nacional. Nas mãos de vocês, o que era um cínico out-door se torna uma queima de fogos, o que era enfeite de natal vira protesto contra o consumismo, e um técnico de geladeira merece tanto carinho quanto um grande artista ou um popstar.
Não pude deixar de notar que você tem suas mil contradições, que tento entender como efeito colateral de uma liberdade radical. Como você mesmo disse: “Hoje quem não está confuso ou está mal informado ou está sendo desonesto consigo mesmo”. Devo admitir que não é fácil te defender em público, não se fala de alguém tão polêmico impunemente. Claro que eu vejo uma grande beleza quando você conta que invadia casas para, em vez de roubar, presentear o morador com mensagens disruptivas ou com surpresas maravilhosas. É uma generosidade ampla, com a qual não estamos acostumados. Eu me pego sonhando com o que foi que sentiu a criança que ganhou um coelhinho vivo na páscoa, na calada da noite; ou a velha viúva que se deparou com uma horta inesperada em seu quintal; ou mesmo as madames que podem, talvez, “não terem entendido nada”, mas tiveram uma chance de questionar seu próprio marasmo. Não podemos esquecer, no entanto, que nem tudo que vocês fizeram pode ser imitado. São Paulo é mais perigosa que Curitiba: a polícia é mais intolerante e os traficantes estão por toda parte. Invadir casas por aqui não é recomendável. Além disso, algumas de suas subversões não me parecem boas saídas: uma catapulta de merda contra os carros novinhos da fábrica da Renault pode simbolizar uma vingança contra os ricos, mas quem limpa a sujeira depois é um homem do povo, vítima do sistema.
De qualquer maneira, em um mundo tão caótico como o nosso, acho importante ver o que tem a dizer quem busca converter todo o caos em algo positivo. Comoveu-me muito um comentário em seu blog de um professor, chamado Renato, que levou suas narrativas para a sala de aula e confessou que aprendeu contigo algo sobre união. Pode parecer desnorteador pensar que aprendemos algo tão sublime com alguém tão porra-louca, mas o perigo maior não está no seu livro nem no blog. Está na realidade em decadência, e você mesmo demonstra isso em sua prosa beatnik.
É difícil prever o que acontecerá com cada pessoa que ler o Manual, mas não duvido que ele possa até mesmo salvar vidas. É um livro que dá alternativas aos jovens mais inquietos: aqueles que se sentem sem rumo, que cedo ou tarde acabariam se perdendo, que se marginalizariam sem volta, que se desesperam por não entender porque não se adaptam. Nós precisamos desses inquietos, conscientes e em liberdade. São eles que nos dão a esperança de que algo possa mudar. Não sei se todos te compreenderão, Ari, mesmo porque você é um poço sem fundo de contradições. Ainda assim, não escondo a admiração pelo terrorista que, se nunca invadiu minha casa com seus disparos, invadiu minha mente com os relatos, e com isso mudou minha vida.

O Manual Prático de Delinqüência Juvenil tem publicação prevista para o fim deste ano, pela Editora Deriva, a um preço popular.

Mais informações: http://editoraderiva.multiply.com/
excambo@yahoo.com.br



Ivan Hegenberg é escritor e artista plástico. Em 2005 lançou A grande incógnita (contos) e em 2007 Será (romance). Tem textos publicados no site Cronópios e no blog L’enfant Le terrible: http://ivanhegenberg.blogspot.com.

quinta-feira, novembro 29, 2007

2 em 1

Faltam apenas dois dias! Não percam o lançamento de O Casulo.


Estas são algumas imagens do 2 em 1 digital, que é formado por Rafael Agra e Andrea Pedro. O coletivo apresenta trabalhos que dialogam com as técnicas tradicionais de pintura aliada aos recursos da computação gráfica, e passeiam por suportes tão diversos quanto luminárias, bolsas, agendas, camisetas etc.


.: o coletivo 2 em 1 digital estará exposto de 04 de dezembro de 2007 a 19 de janeiro de 2008 no Central das Artes ( Rua Apiganés, 1081, Sumaré - São Paulo - SP; tel: 11 3865-4165).



(clique nas imagens para ampliá-las)






segunda-feira, novembro 26, 2007

Lançamento do Casulo nº 7!


A edição 7 do jornal de literatura contemporânea O Casulo, que contou com o apoio do VAI (Valorização de Iniciativas Culturais da Prefeitura de São Paulo) nos dois últimos números, será lançado dia 1º de dezembro na Casa das Rosas — Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, a partir de 19h.

O lançamento é um dos marcos da reabertura da Casa das Rosas como pólo literário da cidade, após a exposição CAD Brasil (Casa Arte & Design), que se encerrou em outubro deste ano.

Haverá também leitura de poemas, inclusive com a participação dos alunos de ensino médio, vencedores do concurso literário Saia do Casulo.

Abaixo, prévia do conteúdo de O Casulo número 7:

Poemas
de Alberto Pucheu (RJ)
de Ana Elisa Ribeiro (MG)
de Lígia Dabul (RJ)

Tradução
de poemas do norte-americano Bill Knott, por Reuben da Cunha (MA)

Conheça
a história de Roberta Maria da Conceição e Severino Manoel de Souza, que criaram a Biblioteca Comunitária Prestes Maia. E saiba o que eles fazem, onde vivem e o que aconteceu com a biblioteca depois da desocupação do Edifício Prestes Maia, no centro de São Paulo.

Resultado do Concurso Saia do Casulo
confira os textos premiados de alunos de Ensino Médio.

Arte da capa e ilustrações
de Angelina Camelo (MG)

Mais ilustrações
de 2 em 1 digital - Rafael Agra & Andrea Pedro (SP)

No mesmo dia, como postado abaixo, será oferecida na Casa das Rosas a oficina "Poesia brasileira contemporânea e o exílio na especificidade" por Andréa Catrópa, uma das editoras do jornal.

Então é isso:

Dia 1º de dezembro – das 10h às 14h30
Oficina de poesia (por Andréa Catrópa) - - 20 vagas

Ainda no dia 1º — a partir das 19h
Lançamento jornal O Casulo – literatura contemporânea – número 7 - com leitura e participação dos ganhadores do Concurso Saia do Casulo

Casa das Rosas (Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura)
Avenida Paulista, 37 – próximo à estação Brigadeiro do Metrô
Telefone: (11) 3288-9447
http://www.casadasrosas.sp.gov.br/

Lembrando que todas as atividades são gratuitas.

domingo, novembro 25, 2007

Oficinas na Casa das Rosas

A Casa das Rosas — Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura passou por uma grande reforma este ano e agora se prepara para abrir suas portas novamente a todos os admiradores de literatura. Ainda haverão alguns eventos até o fim deste ano mas nos reservamos a divulgar as três oficinas literárias que serão realizadas durante o mês de dezembro. Destacamos a oficina de nossa co-editora, Andréa Catrópa, sobre poesia brasileira contemporânea que é aberta a público, completamente gratuita (será a última oficina organizada pelo jornal O Casulo este ano). Uma oficina muito bem ministrada e voltada a todos os interessados em literatura contemporânea.
E se puder, compareça também nas duas oficinas de criação que a Casa das Rosas oferece este mês: haikai com a grande poeta Alice Ruiz e de narrativas breves com o contista, vencedor do Jabuti, Marcelino Freire.




CURSOS DE DEZEMBRO 2007

Poesia brasileira contemporânea e o exílio na especificidade
Por Andréa Catropa

Dia 1 de dezembro das 10 às 14:30
Vagas: 20
Gratuito

O objetivo desta oficina é fornecer aos participantes algumas ferramentas para sua reflexão acerca da poesia contemporânea brasileira. Para isto, faremos um breve panorama dos principais eventos da poesia moderna nacional e um detalhamento de algumas características do cenário literário, desde a década de 70 até a atualidade. Também iremos nos deter na leitura de alguns textos deste período, para que os elementos teóricos sejam confrontados com a produção poética atual.


Oficina de haikais
Por Alice Ruiz

Dias 12, 13 e 14 de dezembro, das 19 às 21hs
Vagas: 30
Inscrição: R$ 10,00

Essa oficina se propõe a familiarizar os participantes à técnica e prática do haikai- poesia mínima de origem japonesa, analisando e cotejando a produção de haikais japoneses e brasileiros, em conjunto, tendo assim um rápido apanhado histórico. Na parte prática, o participante inicia com exercícios de tradução passando para a criação em conjunto, e com a coordenadora, havendo espaço, é claro, para as produções individuais.

Oficina de narrativas breves
Por Marcelino Freire

Dias 12, 13 e 15 de dezembro, das 19 às 21hs, (sábado, dia 15, das 15 às 17hs)
Vagas: 30
Inscrição: R$ 10,00

O autor de “Contos Negreiros”, “Balé Ralé” e “Angu de Sangue”, dentre outros, Marcelino Freire ministrará esta oficina em que mostrará aos participantes os passos para se construir uma narrativa breve que prime pela qualidade através da forma concisa.


***

As inscrições devem ser feitas pessoalmente na Casa das Rosas, com Fernanda César, de segunda a sexta, das 10 às 18h.

Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura
Av. Paulista, 37 – Bela Vista
São Paulo – SP
Tel: 3288-9447
www.casadasrosas.sp.gov.br


sábado, novembro 24, 2007

inédito de Annita Costa Malufe

Depois de um longo hiato voltamos com as postagens semanais. E com muitas novidades: a próxima edição imprensa do jornal já está no prelo e será lançado dia 01 de dezembro na Casa das Rosas — Espaço Haroldo de Campos de poesia e literatura (começamos a contagem regressiva. Novas informações todos os dias, aguardem). Agora, temos o prazer de anunciar a publicação de um poema inédito de Annita Costa Malufe, parte de seu novo livro Nesta cidade e abaixo de teus olhos, que será publicado em breve pela Editora 7Letras. Que 2008 comece com este e mais grandes lançamentos na poesia brasileira!

caber na realidade das ruas
colher as falas das ruas
perambular pelas ruas
procurar o poema nas ruas como se
de um pequeno lapso de tempo entre
a partida do ônibus o amarelo
do sinal o senhor que se abaixa para
amarrar os sapatos alguma coisa marcasse
uma parada imperceptível do tempo uma luz
que roça a copa das árvores meio de lado
meio no cair da tarde como se tivesse
sido lançada pelo som dos sinos das seis
sumindo com os sinos levando os sinos e
as árvores e as ruas e o poema e as falas
para um lugar
em que o mundo
já não fala

[para Heitor Ferraz]


Annita Costa Malufe é pesquisadora, nasceu e vive em São Paulo. É autora do livro de poemas Fundos para dias de chuva (RJ, Ed.7Letras, 2004) e do ensaio Territórios dispersos: a poética de Ana Cristina Cesar (SP, Ed. Annablume, 2006). O poema acima faz parte de seu novo livro, Nesta cidade e abaixo de teus olhos, a sair pela Ed. 7Letras ainda neste ano. Atualmente, conclui seu doutorado em teoria literária pela Unicamp, estudando poesia brasileira contemporânea e filosofia da diferença francesa.