Franz Weissmann, Grande quadrado vermelho, 1996
(instalação metálica, dimensões desconhecidas, na Avenida República do Paraguai, Rio de Janeiro).
Aviso:
Agora, a oficina online poesia feita de quê? possui um blog próprio http://poesiafeitadeque.blogspot.com/. Estão todos convidados: participem!
domingo, agosto 24, 2008
Quarto exercício - escultura 2
Raoul Hausmann, Mechanischer Kopf (Der Geist unserer Zeit)*, 1920
(manequim para penteados com carteira de couro de crocodilo, régua, mecanismo de relógio de pulso, pedaços de bronze de uma câmera velha, cilindro de máquina de escrever, fita métrica, dedal, pregos e parafusos, 32,5 x 21 x 20 cm).
Acervo do Centre Pompidou, Musée national d'art moderne-Centre de création industrielle, Paris, adquirido em 1974.
* Cabeça mecânica (O espírito de nosso tempo)
Quarto exercício - escultura 1
Petrus Verdier, Mulher com xale, 1908
(madeira entalhada e marfim esculpido, 24 x 16,5 x 24 cm, assinada).
Acervo do Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, adquirido em 1913.
(madeira entalhada e marfim esculpido, 24 x 16,5 x 24 cm, assinada).
Acervo do Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, adquirido em 1913.
domingo, agosto 17, 2008
Terceiro exercício - poema de Nana M.
há um desejo
escondido em algum canto do meu corpo,
desperdiçado em lençóis e lágrimas,
libertado num prazer solitário.
ele, causador da minha fome,
movido por esse desejo que sinto,
alimenta ilusões e traz a lembrança
de uma confusão de mãos, bocas, línguas e medos,
durante minutos que pareciam eternos.
os corpos unidos eram a única harmonia.
e ele desaparece,
deixando a saudade,
uma tristeza sufocante,
um vazio íntimo,
e o desejo desperto
que jamais será
saciado.
(Nana M.)
escondido em algum canto do meu corpo,
desperdiçado em lençóis e lágrimas,
libertado num prazer solitário.
ele, causador da minha fome,
movido por esse desejo que sinto,
alimenta ilusões e traz a lembrança
de uma confusão de mãos, bocas, línguas e medos,
durante minutos que pareciam eternos.
os corpos unidos eram a única harmonia.
e ele desaparece,
deixando a saudade,
uma tristeza sufocante,
um vazio íntimo,
e o desejo desperto
que jamais será
saciado.
(Nana M.)
Segundo exercício - poema de Nana M.
enquanto números correm freneticamente no relógio
a existência inevitavelmente caminha em direção ao nada
ser efêmero
afia-se a lâmina fria
que penetrará suavemente na carne ainda quente
libertando
escravizando
punindo
curando
matando
o frágil
alimentando
o forte
o desolado
entorpece-se para calar
o tédio
a vida
a angústia existencial
e o vazio de ser
humano
(Nana M.)
a existência inevitavelmente caminha em direção ao nada
ser efêmero
afia-se a lâmina fria
que penetrará suavemente na carne ainda quente
libertando
escravizando
punindo
curando
matando
o frágil
alimentando
o forte
o desolado
entorpece-se para calar
o tédio
a vida
a angústia existencial
e o vazio de ser
humano
(Nana M.)
Terceiro exercício - poema de Andréa Catrópa
são os números que nos governam
ao contrário
do que pensamos
em seu universo
não há
ordenação
possível
só dez
algarismos dançando
inconseqüentes
fixando datas
destinos
contando
os segundos
que restam
somando
os idos
decrescendo
as faltas
gerenciando
empresas
ampliando
escolas
extrapolando metas ilhando seres trancando as grades por vinte e quatro meses fechando a cota de aves civis e soldados para o abate
(Andréa Catrópa)
ao contrário
do que pensamos
em seu universo
não há
ordenação
possível
só dez
algarismos dançando
inconseqüentes
fixando datas
destinos
contando
os segundos
que restam
somando
os idos
decrescendo
as faltas
gerenciando
empresas
ampliando
escolas
extrapolando metas ilhando seres trancando as grades por vinte e quatro meses fechando a cota de aves civis e soldados para o abate
(Andréa Catrópa)
Terceiro exercício - poema de Edgar Belial
Meu olho
De minhas pupilas em midríase,
Sangue e lágrimas, escorreram.
Estancaram com uma gaze;
(Estou deitado na fria mesa.)
Meu olho esquerdo foi cortado
Cirurgicamente ao meio,
Com um instrumento afiado.
(Como uma suculenta fruta tropical.)
Eu sei que, nesta sala que
Ainda vejo com o direito;
Sou a aula de Nicolaes Tulp.
Pílulas, álcool, drogas, overdose.
Resultado de uma noite de abusos;
Sou o cadáver vivo da necropsia.
(Edgar Belial)
De minhas pupilas em midríase,
Sangue e lágrimas, escorreram.
Estancaram com uma gaze;
(Estou deitado na fria mesa.)
Meu olho esquerdo foi cortado
Cirurgicamente ao meio,
Com um instrumento afiado.
(Como uma suculenta fruta tropical.)
Eu sei que, nesta sala que
Ainda vejo com o direito;
Sou a aula de Nicolaes Tulp.
Pílulas, álcool, drogas, overdose.
Resultado de uma noite de abusos;
Sou o cadáver vivo da necropsia.
(Edgar Belial)
Terceiro exercício - poema de Eric Philip Sukys
Como num diálogo com as próprias
Profundezas de um pesadelo escuro
Em contraste com as mais inóspitas
Pálidas faces que causam distúrbio
Vejo algo de que os vermes
Reunidos em massa para a desgraça
Simplesmente se servem
A fragilidade alheia das coisas
Desbota como num rolo de filme
Usado e jogado fora
Uma escuridão transtorna
A própria noite como se fosse nada
A besta espreita entediada mas morta de ciúmes
(Eric Philip Sukys)
Profundezas de um pesadelo escuro
Em contraste com as mais inóspitas
Pálidas faces que causam distúrbio
Vejo algo de que os vermes
Reunidos em massa para a desgraça
Simplesmente se servem
A fragilidade alheia das coisas
Desbota como num rolo de filme
Usado e jogado fora
Uma escuridão transtorna
A própria noite como se fosse nada
A besta espreita entediada mas morta de ciúmes
(Eric Philip Sukys)
domingo, agosto 10, 2008
Segundo exercício - poema de Eric Philip Sukys
Uma frenética melodia
Chega para mim como uma visita
Um piano tentando me dizer coisas indistintas
Gritando, sussurrando, alcançando memórias perdidas
Num primeiro momento não admito, mas ela faz certo sentido
Quando se equipara à confusão que vem me distraindo então
Há um fantasma sentado aqui ao meu lado numa sala
E para onde eu vou evoca um labirinto íntimo
Traz frustrações de novo para dentro
E parece sem tempo
Traz consigo tons distantes
Um silêncio um tanto barulhento
Desenha uma sintonia desconhecida
Mas não tão estranha quando penso no desejo
Ou no grande apego que não admito que tenho
Sinto-me um prisioneiro dessa visita
Imagem do que já fui ou fiz um dia
Em amores hesitantes
Então como numa oitava inesperada
Viro o rosto quando quando vejo que foi engodo
E um ideal descarado vê de perto uma estátua grega
Então supero e sigo em frente numa estrada não sinalizada
(Eric Philip Sukys)
Chega para mim como uma visita
Um piano tentando me dizer coisas indistintas
Gritando, sussurrando, alcançando memórias perdidas
Num primeiro momento não admito, mas ela faz certo sentido
Quando se equipara à confusão que vem me distraindo então
Há um fantasma sentado aqui ao meu lado numa sala
E para onde eu vou evoca um labirinto íntimo
Traz frustrações de novo para dentro
E parece sem tempo
Traz consigo tons distantes
Um silêncio um tanto barulhento
Desenha uma sintonia desconhecida
Mas não tão estranha quando penso no desejo
Ou no grande apego que não admito que tenho
Sinto-me um prisioneiro dessa visita
Imagem do que já fui ou fiz um dia
Em amores hesitantes
Então como numa oitava inesperada
Viro o rosto quando quando vejo que foi engodo
E um ideal descarado vê de perto uma estátua grega
Então supero e sigo em frente numa estrada não sinalizada
(Eric Philip Sukys)
segunda-feira, agosto 04, 2008
Tem início hoje o primeiro exercício para nossa oficina virtual Poesia feita de quê?, que tem como proposta a realização de poemas a partir de estímulos determinados. Nesta segunda, escolhemos três trabalhos fotográficos (posts abaixo) como possíveis desencadeadores do processo criativo. A idéia é que possamos não apenas produzir, mas comentar os próprios textos e os textos alheios. Para isso, basta se manifestar na seção destinada aos comentários. Não há prazo para postar, cada um pode produzir seu(s) texto(s) quando desejar. A utilização das imagens também fica a critério de cada um. É possível pensar em um poema a partir do conjunto, ou de cada uma em separado.
Na próxima segunda, traremos ao blog novos estímulos. Até lá, mãos à obra!
Na próxima segunda, traremos ao blog novos estímulos. Até lá, mãos à obra!
Primeiro exercício - poema de Eric Philip Sukys
Por trás de olhares misteriosos
Duas figuras femininas
Emaranhadas e entrelaçadas
Submetidas à paixão e ao desejo
Assim como o desespero que
Impera dentro de suas almas vazias
Há um lamento, uma compulsão
Seus rostos desfigurados por
Um excesso de atrativos que
Deveriam impulsionar a atração
Pelo menos assim lhes foi dito
Quem sabe mutuamente elas
Desejam algo que simplesmente
Não encontram por si só
Como se abrissem as janelas
Numa abstração irreconhecível
Para nós
(Eric Philip Sukys)
Primeiro exercício - poema de Renato Mazzini
último grito
em cada olho uma cidade em chamas, fogo azul
escuro. desde que a mão aprendeu um gesto de
adeus e em cada olho uma cidade em chamas,
fogo. azul escuro, ri-se. transpor cada portão com
o mesmo sorriso macerado e outra vez de encontro
ao mesmo gesto seu: movimento deflagrado pelas
laterais, simulacro de asas de gel, batendo à
rapidez das piscadelas. em cada asa, uma cidade
incendiada, fogo azul escuro, talhos inacabados de
gilete no céu, uma garota escandinava vizinha da dor, e em
cada olho uma cidade no meio das labaredas.
retângulos de nuvens destacados no alto, cauterizados
em fogo escuro, azul. a linha de espera longa,
assemelhada na vertigem de reencontrar o mesmo
rosto no metrô e temê-lo, os olhos, suas chamas
azuis, repetindo-se.
(Renato Mazzini)
(Renato Mazzini)
Primeiro exercício - poema de Nantes de Orange
Esboço sobre um sonho
Sou invisível em meus sonhos.
Não faço parte da cena,
É apenas meu sonho.
Sob aquela silenciosa sinfonia;
Braços, mãos, sangue.
Gestos, movimento, sensualidade.
Dançavam sem ritmo, sem som.
Assisto à cena como um filme.
Sou a única platéia,
Mas não estou na cena.
Dentre as bacantes vejo;
Vestido preto, semblante andrógeno.
Estranha figura que fitava as moças.
Agora olha apenas pra mim.
Sou visível, não é um sonho.
Não é um sonho, faço parte da peça.
(Nantes de Orange)
Sou invisível em meus sonhos.
Não faço parte da cena,
É apenas meu sonho.
Sob aquela silenciosa sinfonia;
Braços, mãos, sangue.
Gestos, movimento, sensualidade.
Dançavam sem ritmo, sem som.
Assisto à cena como um filme.
Sou a única platéia,
Mas não estou na cena.
Dentre as bacantes vejo;
Vestido preto, semblante andrógeno.
Estranha figura que fitava as moças.
Agora olha apenas pra mim.
Sou visível, não é um sonho.
Não é um sonho, faço parte da peça.
(Nantes de Orange)
Primeiro exercício - poema de André Fernandes
paisagem com figura
eis
a mulher no retrato
desdobrada em outras
de seios nus
(que nudez é essa?
do que se está falando senão de corpos?)
apesar do esforço do fotógrafo
apesar de
escorre o rímel que
dá forma à mulher
(sem nudez...
...)
mulher
como homem
doma cavalo
fotografa homens
com enxadas
(uma espécie de tesão: ver o sofrimento alheio...
na classe média intelectualizada)
a mulher está sempre
como peixe
ou referência cruzada
como quem remove o rímel
ou a idéia vaga
(nua)
os seios transpõem a tela
e descansam em desejos
famélicos de hiperrealidade
(André Fernandes)
eis
a mulher no retrato
desdobrada em outras
de seios nus
do que se está falando senão de corpos?)
apesar do esforço do fotógrafo
apesar de
escorre o rímel que
dá forma à mulher
mulher
como homem
doma cavalo
fotografa homens
com enxadas
na classe média intelectualizada)
a mulher está sempre
como peixe
ou referência cruzada
como quem remove o rímel
ou a idéia vaga
os seios transpõem a tela
e descansam em desejos
famélicos de hiperrealidade
(André Fernandes)
Primeiro Exercício - poema de Andréa Catrópa
é madrugada e agora sou a senhora dos tempos, imperatriz desta sala, sem outra voz ou espelho da madrasta, a lebre que ergue as antenas para o sono em uníssono e capta os sonhos, colhendo deles a fruta, ameixa roxa que ao raiar do sol me envenena e tinge as pálpebras de púrpura
(Andréa Catrópa)
(Andréa Catrópa)
sexta-feira, agosto 01, 2008
Um poema de Danilo Bueno
Em pleno lançamento da nona edição impressa d'O Casulo, publicamos aqui no blog um poeta que contribuirá na décima edição, Danilo Bueno, como preparativo e aviso de que o jornal está a todo vapor:
guia de viagem — gravurasexceto o corpo, piscina natural de dias quebrados, claustro e observação simultânea (clausura é somente ar, gotas azuladas) — cardo repele borboleta — pensou no ramo de azevinho (delicado entre amarelo verde vermelho) e na biblioteca de conchas, o coro do mar. talvez nenhuma imagem. à espera do hoxton car service, chaminés variadas. nenhuma delas uma presença real; nenhuma delas papoulas ao sol
"A imagem sem centro" - Textos e desenhos de Francisco dos Santos
a reinvenção do mesmo
gasta a
imagem,
com ‘su
lengua’
de faca
escava
na face
cava
sua
máscara —
com sua
língua
de faca —
sua
morte
escava
gasta a
imagem,
com ‘su
lengua’
de faca
escava
na face
cava
sua
máscara —
com sua
língua
de faca —
sua
morte
escava
Poema sobre uma fotografia
Assentou-se
entre livros,
os clássicos, os
contemporâneos,
livros
de toda sorte,
um e outro
casualmente
arranjado,
no colo um gato
rajado,
gato maltês,
para ser
fotografado
como um homem
de sabedoria,
mas
alguma coisa
no olho do gato o
denunciava:
não era Cortázar
a imagem sem centro
aSylviaPlath
a imagem
como ausência
sem centro,
sem voz,
sem cor,
sem um gordo cadáver
fala em solilóquio, faca
cega
que não corta mais seus signos
oh a irmã com os olhos cerzidos
entre as roseiras...
a doce irmã da infância...
quem de vós, em sã consciêcia,
desamordaçaria
Elfrangor?
Francisco dos Santos, 1967, Mato Grosso do Sul. Publicou Topografia de um homem urbano (1986/2001, desenhos), Diálogo com Goya (2000/2002, pintura), A reinvenção do mesmo (2002/2003, poesia), entre outros títulos.
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