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terça-feira, setembro 04, 2007

Depois do “poemão” por Débora Racy Soares

Prosseguindo com as publicações semanais: a contribuição, dessa vez, é de Débora Racy Soares, que elabora uma tese de doutorado sobre Cacaso. Sugerimos uma breve comparação sobre a geração do referido poeta e a atual geração de poetas. Acredito que o texto seja muito rico e pode alimentar boas reflexões sobre a poesia. Comentários em aberto (e agradecimentos a Débora).

Depois do “poemão”: a poesia hoje

Cacaso costumava dizer que todos os poetas de sua geração estavam escrevendo um “poemão”, isto é, um único poema coletivo, a mil mãos. Os sentidos desse “poemão”, se desdobrados, alcançam dimensões que transcendem a esfera estética. Nos anos de setenta, a idéia de uma escrita coletiva não passava ao largo da poética com envergadura política: escrever era resistir à paralisação institucional. Pôr em ação um “poemão” significava, a priori, contestar várias esferas de poder. Um dos alvos era o “restrito e restritivo” sistema editorial que, diante do “boom” de poetas, não tinha “vagas suficientes” para absorver a produção excedente. Essa espécie de transbordamento poético fez com que os poetas “imaginassem saídas” e “ficassem mais inventivos”. A edição independente dos livros de poesia, à margem das editoras, surgiu como resposta a um quadro de época. Atualmente a situação editorial não é muito diferente, embora, com as novas tecnologias, tenha ficado mais fácil divulgar poesia. Há, porém, quem acredite que a poesia será sempre marginal. Às perfomances poéticas de setenta, aos saraus literários e à divulgação dos poemas em jornais e revistas, acrescentam-se hoje os https pessoais e os blogs. Alguns dos “marginalizados” de setenta tiveram seus livros publicados pelas editoras, em meados de oitenta, o que contribuiu para o conhecimento de suas obras e para a criação de uma espécie de cânone marginal. Embora isso pareça um contra-senso, é preciso reconhecer que os poetas contemporâneos estabelecem um diálogo frutífero com alguns poetas de setenta que sobreviveram às intempéries iniciais e seguem escrevendo e divulgando seus poemas, agora pelas vias tradicionais.
Débora Racy Soares é doutoranda em Letras pela UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas).

2 comentários:

Anônimo disse...

Acho que verificamos, sim, esse "transbordamento" da produção hoje, que impulsiona a busca (cada vez mais cheia de recursos) pela publicação independente.
Andréa

Aldemar Norek disse...

Pois é, mas este diálogo, quando (raramente) existe se dá apenas em campos muito restritos, em aspectos específicos da poética do eleito (como Ana C., p.ex. e sua impactante força com a palavra que move, justificadamente, tantas novas vozes- ou Chico Alvim, ou o Cacaso). O projeto marginal,a contestação do sistema capitalista foi absolutamente esquecido, por um lado, e muita gente pensa hoje poesia como "produto" ou como "moda". Sob este aspecto, o boom da escrita (ah,este termo persegue a gente desde os '70)pode refletir apenas a necessidade de uma certa justificação social, de uma inserção num meio culto (ou pseudo-culto)ao invés de um lugar de pensamento, de radicalidade do pensamento, de vasculhamento do real. Não sei se nestas horas cabe a pergunta "afinal, você escreve pra quê?" ou se nem ela dá conta desta questão. De todo modo temos hoje, em termos de "geração", uma fragmentaridade espetacular,com yuppies, marginais tardios, loucos, integradinhos, mauricinhos (e patricinhas), somados às vozes que buscam, no deserto do real, revisar o sentido deste mundo louco. E bota louco nisso.