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segunda-feira, dezembro 04, 2006

DUAS PERGUNTAS PARA DANIELA OSVALD RAMOS


Que isso absolutamente não acontece é fato sabido e consabido: no nível do consumo, nunca foi tão grave a crise da poesia. Os editores, tanto quanto os livreiros, fogem dela como o diabo da cruz, e para poder chegar até o minguado público capaz de interessar-se pela sua arte agonizante, os poetas se vêem obrigados a lançar mão de quantos expedientes possam excorgitar: transformar-se em camelôs de rua para vender suas modestas edições mimeografadas; promover movimentos de catequese poética como soldados de um novo exército da salvação; lançar chuvas de poemas por sobre os passantes distraídos; e que sei eu mais. Ou recorrem a tais expedientes, quase sempre ineficazes, ou então se conformam em melancolicamente circular, bilhetes de rifa, entre familiares, amigos mais ou menos chegados, professores de literatura e outros poetas tão pouco conhecidos quanto eles próprios.

(Jose Paulo Paes, Gregos e baianos, 1985)


Você poderia comentar a afirmação acima?

Acho que o Paes é muito lúcido no seu comentário. Por um lado, sabemos que literatura e, em particular, poesia, nunca chegarão a vender grandes somas no Brasil. Mas isso não é motivo para perdermos a batalha antes de começar a guerra, que é o que parece: todos aceitam sem questionar um certo domínio da circulação de poesia, como se isso fosse até chique, de certa maneira. Dar para os amigos e mais chegados livros e plaquetes que foram pagos pelos próprios editores é sem dúvida elegante e gentil. Mas se eu soubesse onde comprar as plaquetes maravilhosas de tradução que o Ronald Polito faz, por exemplo, eu iria deixar uns 50 reais sem pestanejar. O fato é: estamos inseridos em uma cultura pós-capitalista e não temos onde comprar formatos alternativos (e entram até editoras que não estão nas grandes livrarias) de poesia. Isso é urgente, precisamos legitimar um espaço de compra. Na galeria de arte Belleza Y Felicidade, em Buenos Aires, da curadora Fernanda Laguna (que também é poeta), há um espaço pequeno, mas que parece um oásis do que se pode fazer. há plaquetezinhas com quatro páginas, sem pretensão nenhuma a não ser a divulgação do trabalho dos autores, que são vendidas a 1 peso (menos que um real). Temos que começar a pensar (e executar) seriamente nisso. Não acho que a prática de abordagem na rua funcione mais (embora admire a coragem de quem faça), pois estamos em uma cultura na qual o consumidor de informação vai atrás do que ele quer. Cultura digital: eu seleciono o que quero ler, quando e como. Não quero ser abordado na rua, nos faróis, na bilheteria do cinema. temos problemas sociais demais com este tipo de abordagem; mercadologicamente não funciona, infelizmente.

A redução dos espaços de circulação da poesia brasileira contemporânea tem levado muitos poetas a gastarem bastante tempo com a criação de espaços para a veiculação dos textos literários, com a criação de sites, blogs, publicações alternativas etc. Você acha que isso está trazendo características novas para o trabalho desses poetas-editores-produtores?


Acho que sim, traz características novas, pois o meio influencia no tipo de escrita que se está fazendo, leva a novas reflexões. Não que o meio seja a mensagem, em poesia, mas inevitavelmente se fará e se terá possibilidades de experimentar no meio digital o que no impresso nãoou por falta de dinheiro ou por falta de espaço. Até mesmo em relação ao modo de escrita, mais imediato. Eu assumo totalmente que algumas vezes, especialmente no blog coletivo que participo “Poetar com dealine” (eu, Virna Teixeira, Roberto Romano, Ana Peluso e Angélica Freitas), minha proposta é essa: escrever diretamente na tela. É uma experiência, “poemas instantâneos para sensibilidades imediatas”, que não seria possível em outro meio. As publicações alternativas em papel também acho interessante, principalmente O Casulo, que começou meio que timidamente, mas que está tomando um fôlego de novidade muito legal, com esta última edição de poesia latino-americana, por exemplo. É mais ágil que uma revista e menos efêmero que a leitura na tela. Sem dúvida é muito benéfico fazer circular a poesia, seja em qual meio for. Também não podemos deixar de lembrar o meio “presencial”, nos encontros que andaram acontecendo nos últimos dois meses em São Paulo, prova de que há mobilização física e um certo público leitor que pode gerar mais leitores.

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