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quarta-feira, setembro 10, 2008

Notas sobre Homeland, de Laurie Anderson (escrito por Andréa Catrópa)



We’re sailing through this transitory life

A dúvida que paira sobre a possibilidade da representação do horror por meio das palavras também se estende à maravilha – como não vulgarizar uma experiência positivamente singular e perturbadora? Até que ponto a tentativa de explicar e, de alguma forma, categorizar o vivido não é também uma forma de defesa, que nos permite diminuir e expulsar o impacto de um evento para que mais rapidamente voltemos àquilo que a vida nos exige? No entanto, a objetivação desse mesmo impacto aponta também para uma transformação confirmadora de sua fecundidade, idéia que me socorre para justificar este ato. Desde o início de Homeland, show de Laurie Anderson apresentado neste fim de semana no Sesc Pinheiros, uma impressão me incomodava, por inicialmente parecer injustificável. A sua performance me parecia verdadeiramente “clássica”. Dividida entre a entrega ao arrebatamento que o show me provocava, e a cisma em tornar racional minha impressão, busquei conforto no seguinte artefato teórico: afinal, não se fala de uma institucionalização da vanguarda? Mas o fato é que esse processo opera na diminuição do alcance dos questionamentos vanguardistas, o que, de fato, não era o caso. O minimalismo e a exatidão conviviam no palco com a riqueza de detalhes, as camadas de som e as inflexões de canto e voz totalmente precisas, o texto repentinamente oscilando do excerto jornalístico para o lirismo onírico, a reflexão sobre o particular histórico permeada pela referência ao mais íntimo, os recursos eletrônicos em precisa consonância com a realização humana. Só após o término do show, com o constrangimento de enfrentar a fila da saída e ouvir os comentários que, por menos equivocados que fossem, seriam uma banalização do presenciado, só depois de entrar no carro e me afastar dali, percebi o que me permitia atribuir à Homeland a qualidade de expressão clássica. Se ao moderno se liga a idéia de fragmentação e descontinuidade, ao clássico está implícita a noção de continuidade, e de perfeita possibilidade do artista expressar-se materialmente, ainda que do eterno e modelar o homem só possa conhecer o simulacro. O reconhecimento da precariedade humana surge na obra de Anderson como um eixo central e, por isso, longe de ser uma falha, é a condição da redenção. A serenidade absoluta com que a artista opera a confluência de diversas linguagens artísticas só confirma isso, e expressa uma compreensão do uso colaborativo de artesanato e tecnologia como uma forma transitória, particular e, portanto, absolutamente contemporânea de atribuir algum sentido à vida.


escrito por Andréa Catrópa

2 comentários:

MANCHA disse...

tierra: en la nariz

tierra blanca en la nariz
existimos cromosomas: tierra blanca en la nariz

un polvo

zuuuuhmmmm


risas: jajajajaj

no sé lo que decimos
las manchas somos manchas o plastas de pintura y papel corrugado

um cara legal... disse...

1909: brumas