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quarta-feira, janeiro 17, 2007

Natal na rampa

Comecei a falar das circunstâncias em que conheci seu Severino e fui tomado pela problemática das calçadas que, tradicionalmente, na metrópole moderna, sempre foram um lugar de encontro entre diferentes, sumidouro veloz onde o poeta havia perdido a aura do poeta e que, no entanto, vêm sendo “reauratizadas” no pior sentido (ao menos ao julgar pelo que vem acontecendo em São Paulo) pelo consórcio entre especulação imobiliária e políticas públicas socialmente segregadoras, dedicadas à expulsão do “refugo humano”; para lembrar a expressão cunhada por Zygmunt Bauman.
Esse meu parente desvio, contudo, não tem caráter digressivo, pois ajuda a compreender melhor tanto o meu envolvimento com os moradores do Prestes Maia como algumas das preocupações que orientam hoje meu trabalho poético.
Pois bem, falava eu da manifestação contra a rampa antimendigo, ocorrida em 17 de dezembro de 2005. Por ocorrer às vésperas do natal, a ação recebeu o nome de “Natal na rampa” e reuniu artistas plásticos, performers, videomakers, escritores, jornalistas, arquitetos, entre outras pessoas. Além do Severino e da Yili, mencionados anteriormente, estiveram também presentes o padre Júlio Lancelotti, e uma série de amigos como Viviana Bosi, José Moura Gonçalves Filho, Priscila Figueiredo, Luiz Repa, Tércio Redondo, Elaine Armênio, Bruno Zeni, Ricardo Lísias e Pádua Fernandes, todos se manifestando pacificamente sob o olhar da Guarda Civil Metropolitana. Eu, Pádua, Priscila e outros confeccionamos cartazes com frases como “É pau, é Serra/ é o fim do caminho”; “Era uma casa /muito engraçada/ não tinha teto/ não tinha nada”; Lísias escreveu um fragmento de prosa sobre um homem que mora debaixo do tapete, que ele mesmo mandou imprimir e colar nas imediações da rampa no sistema de lambe-lambe. Havia também um ator vestido de Papai Noel, com a máscara do Serra, promovendo uma ceia simbólica em bananas eram distribuídas a um morador de rua. A ação toda, que se estendeu por pouco mais de duas horas, reuniu cerca de 30 pessoas, mas não deteve os operários incumbidos de cimentar o vão da rampa. No entanto, serviu para me pôr em contato com pessoas e grupos afinados com o projeto de uma cidade mais justa, entre as quais seu Severino.
[Natal na rampa antimendigo, 17/dez/2005. Foto: Fabio Weintraub]

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