GRAF ORLOK
nave lançada
ao mar:
peste
passeia
entre nautas
morte eminente
mascotes
roedores
águas castigam
o casco
um a um
corpos robustos
quedam-se
ressequidos
noturno títere
zumbi acordado
ergue ereto
do caixote
a r r a n h a d o
a loucura
paira através
do horrendo resto
sombras
governam o convés
ao ancorar
do umbral a velas
um conde
com sua morada
a tira colo
reconhece a
vizinhança:
nova
condenada
M as in MURDER
quando me tirou as muletas
como se fosse uma surpresa
carinhosamente guardada
fadada ao momento propício
pensei:
(por um
segundo e
dez dias)
que minhas próprias pernas
(as que talvez nunca
tivessem existido)
tinham-se atrofiado
a facada em meus
olhos (esta carenagem da
dor)
serviu para iluminar o tecido
de lama movediça
(tudo era tão claro)
(tudo era tão nítido)
(tudo era tão inevitável)
(e inviável)
não sou de dar ouvidos
aos seus gemidos germinados
em meus tímpanos
não fui morrer em vida
e te dar este prazer sem
fim
não dei trela aos
espasmos noturnos
nem à sudorese perpétua
(daqueles dias)
ignorei as visões eróticas
onde eu não era mais
protagonista de porra
nenhuma
fiz que os gritos
de “loser”
não eram para mim
(e nunca foram)
chutei a cabeça
da melancolia e
comi as tripas quentes
da depressão que você
endereçou
(carinhosamente)
ao EUremetente
foi lindo descobrir que
existem mares além
dessas parcas conchinhas
as quais você se resume
hoje, se cruzasse o meu
caminho
em busca de uma revisão
um revival, uma foda
ocasional
certamente eu vomitaria
com asco em seus cabelos
lindos e lisos (embora eu
os dissesse
ressecados)
zombaria de sua cicatriz
e a veria mais gorda
com os peitos postiços falidos
(postiços, e falidos!)
pneus, pneus e mais pneus...
isso tudo é tão pequeno,
absurdamente pequeno
ridiculamente pequeno
mas
te faz tão mal...
ah, como faz...
O HOMEM COM UMA CÂMERA
Para o homem com
uma câmera
/ com olhos de vidro,
visão kinoperplexa,
pistola de luz,
e ação /
a cidade acorda tímida.
Folha após folha
(de jornal), acorda aos poucos.
As pedras minúsculas
da calçada ouvem
passos distantes.
Hora após hora,
agora o barulho
engole a cidade,
o barulho empala
os olhos retidos
com fotos em
focomovimento.
Vertov vê tudo:
/registrassiste/
declinações cirílicas,
ação sem
som do sentido.
Imprime perpétua
a imagem sinfônica,
gangorra da metrópole
inundada de astros
anônimos:
máquinas mesquinhas
animáquinas miméticas.
Guarda em película
celulóides de gente,
empalha olhares
em planos de fuga,
tangentes rompidas
por rodas e tráfego.
Em cada canto
um microponto
mudo
em preto-e-branco.
Um comentário:
Gostei do primeiro e do último , corsários e fotogramas
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