Poesia sem fundo
1.
o motorista do ônibus,
mãos grandes e firmes e fortes,
fala somente o indispensável
mas engata uma segunda-feira
como ninguém diria.
2.
na mesa um souvenir:
“lembrança do rio”.
e o dia quente lá fora
invariavelmente mais frio
que o ar-condicionado
aqui de dentro.
3.
a moça da calçada
ela passa tão doce
que chega a ser irritante.
não houvesse tantas passantes
o dia perdia o sal.
4.
enquanto há passarinhos
cantando,
meus cheques passarão,
voando.
se eu tivesse o talonário dos seus olhos
não precisava de tantas desculpas.
5.
o caixa eletrônico
engoliu minha identidade.
e eu que precisava
de um isqueiro novo,
um sonrisal
e uma boa foda.
Poema extraído de uma resenha no jornal
Seis jovens americanos bronzeados e malhados divertem-se numa praia brasileira.
Uma das meninas decide fazer topless.
Os universitários bebem, jogam futebol e curtem amassos numa cachoeira.
Assim começa o trailer do filme Turistas, que será lançado em dezembro.
Até aí, só mais um filme americano de estereótipos.
Na continuação do trailer, no entanto,
percebe-se que Turistas vai um pouco além dos lugares-comuns sobre o Brasil.
“Num país onde vale tudo, tudo pode acontecer”, diz o vídeo,
enquanto imagens mostram os jovens sofrerem o golpe do boa noite cinderela
e serem feitos reféns numa casa na selva...
Ah, esses americanos.
Sempre condescendentes demais com a própria história,
tão alheios à geografia alheia.
Ainda bem que no Brasil a gente sabe distinguir perfeitamente
a Nigéria da Costa do Marfim, a Letônia da Ucrânia e a Nicarágua da Guatemala.
Palindrômica
1. álvaro de campos
a ira cá bate: tabacaria
2. canto general
“a vaga vida dure”, neruda divagava
3. emílio no espelho (1969)
– ato idiota
4. terra
mesmo com, sem
5. advertência
– aí, dr., ardia
6. constatação
é verborrágico o cigarro breve
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