Treze
As lâminas da língua
talham balelas na pele-página
o corte agudo, exato, não
deixa cicatriz, mas tatuagens
que se movem ao revés
nas rugas da linguagem
o corpo escravo da fala
se verga, esgástulo, desapruma
e o verbo esgrima com a
víscera, infecundo de
tempo, espaço, gesto:
frase ou mera mímica?
anêmica a palavra míngua
à revelia do sentido
sem norte, ensimesmada,
arremedo de tatibitate,
ora engodo, ora miasma,
lance de dados viciados
rouca ou farpa a voz
perde o fio da meada
e adentra a selva obscura,
coisa mental no branco imenso
língua e voz, confrontadas,
se renegam. Ennui.
Distúrbio periférico
Tonto, não porque o planeta
se mova em órbita improvável,
a mente plane liberta da
física do corpo, os objetos
saltem frenéticos e inaugurem
nova e paradoxal inércia;
tonto de náusea labiríntica, esquiva
de argumentos, aflita de
incompletudes, movimento interno
de suspensão do tempo,
este presente instável, parêntese
ziguezagueante, ávido de concretude,
embora órfão de referências, à guisa
de ancoradouros; tontura
antimelancólica por excelência,
projeção de lapsos mentais,
zunindo, carrosséis, caracóis,
livros, sinais, lombadas, vozes
sem palavras, música sem instrumentos,
texturas e cheiros, cambaleando na
calma aparente da noite, ressonar
do pequeno ao lado: o quarto
se move, ou sou eu que me movo,
extático?
Ao dente
morde o caule do dia
não há seiva
todo seu entendimento
está nos dentes
operação depuradora de
sabores
inútil saber
olhar projeta fome
nas palavras
que sequer matam a sede
de conhecimento
famélica espera
no umbral de especulativa era
recusa de nome e
endereço
apenas boca infame
a devorar o caule do dia
no dente, sua fé.
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