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terça-feira, março 27, 2007

Reynaldo Damázio

Treze

As lâminas da língua
talham balelas na pele-página

o corte agudo, exato, não
deixa cicatriz, mas tatuagens

que se movem ao revés
nas rugas da linguagem

o corpo escravo da fala
se verga, esgástulo, desapruma

e o verbo esgrima com a
víscera, infecundo de

tempo, espaço, gesto:
frase ou mera mímica?

anêmica a palavra míngua
à revelia do sentido

sem norte, ensimesmada,
arremedo de tatibitate,

ora engodo, ora miasma,
lance de dados viciados

rouca ou farpa a voz
perde o fio da meada

e adentra a selva obscura,
coisa mental no branco imenso

língua e voz, confrontadas,
se renegam. Ennui.


Distúrbio periférico

Tonto, não porque o planeta

se mova em órbita improvável,

a mente plane liberta da

física do corpo, os objetos

saltem frenéticos e inaugurem

nova e paradoxal inércia;

tonto de náusea labiríntica, esquiva

de argumentos, aflita de

incompletudes, movimento interno

de suspensão do tempo,

este presente instável, parêntese

ziguezagueante, ávido de concretude,

embora órfão de referências, à guisa

de ancoradouros; tontura

antimelancólica por excelência,

projeção de lapsos mentais,

zunindo, carrosséis, caracóis,

livros, sinais, lombadas, vozes

sem palavras, música sem instrumentos,

texturas e cheiros, cambaleando na

calma aparente da noite, ressonar

do pequeno ao lado: o quarto

se move, ou sou eu que me movo,

extático?


Ao dente

boca faminta

morde o caule do dia


não há seiva


todo seu entendimento

está nos dentes

operação depuradora de

sabores


inútil saber


olhar projeta fome

nas palavras

que sequer matam a sede

de conhecimento


famélica espera

no umbral de especulativa era

recusa de nome e

endereço


apenas boca infame

a devorar o caule do dia


no dente, sua fé.


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